
O USO DA RÉGUA JAPONESA NA MOULAGE FRANCESA
- Francys Saleh
- há 3 dias
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Entre as ferramentas que habitam os ateliês de moda, poucas simbolizam tão bem o encontro entre técnica e sensibilidade quanto a régua japonesa, também conhecida como régua flexível. Aos poucos, ela deixou de ser um item raro dos armarinhos de costura criativa para se tornar presença constante nos kits de modelistas e moulagistas.
Sua origem remonta às técnicas de quilting e patchwork, onde essas réguas eram usadas para alinhar, traçar e repetir padrões com precisão. Nos ateliês de quilt, a exatidão do traço era tão importante quanto a delicadeza do ponto.
É importante contextualizar ela na história, já que aos pesquisarmos nos livros de costura e modelagem não encontraremos registros dela, porém no universo do patchwork com o avanço das ferramentas de corte rotativo, as réguas acrílicas graduadas começaram a se difundir amplamente entre quilteiras e costureiras a partir dos anos 1980.
Já na década de 1990, elas foram incorporadas também à costura e à modelagem, tornando-se indispensáveis nos anos 2000, especialmente com a popularização dos métodos de precisão e das técnicas de ruler work (quando a régua guia o traçado da costura).
Marcas tradicionais como a Bohin France acompanharam essa transição e incorporaram as réguas flexíveis ao seu portfólio. Antes, encontrar uma régua japonesa era quase um garimpo; hoje, ela divide espaço com as réguas clássicas nas prateleiras de costura, ocupando o lugar que sempre lhe pertenceu, que é o de ferramenta essencial para quem desenha com as mãos, o olhar e o tecido.
Na moulage, seu papel é ainda mais importante. A régua japonesa é usada em diferentes momentos: na preparação da tela, durante a execução do molde no manequim, na planificação e também na gradação.
E diferente das réguas rígidas e retas, a régua japonesa da Bohin é maleável, permitindo ser moldada em qualquer direção. Essa flexibilidade possibilita traçar linhas orgânicas, que acompanham as curvas do corpo com naturalidade e fidelidade.
Usada em todas as etapas, do ínicio ao fim, como na preparação da tela, quando o modelista usa a régua para marcar as linhas de referência: centro da frente, linha do busto, cintura, quadril. Ao ajustá-la sobre o manequim, a régua se molda ao volume exato, ideal para definir cavas e decotes. Quando a toile é planificada, ela ajuda a corrigir pences e ajustar proporções; e, ao final, durante a transferência para o papel e a gradação, garante que cada curva mantenha a harmonia do traçado original.
A Bohin France, fundada em 1833 na Normandia, é uma das poucas marcas que ainda produz ferramentas de costura e modelagem com padrão artesanal. Suas agulhas, alfinetes, tesouras e réguas são reconhecidos pela durabilidade e precisão e a régua japonesa reflete esse mesmo espírito: tecnologia e tradição em diálogo constante. Inspirada nas ferramentas de modelagem usadas em escolas japonesas de design, foi adaptada ao contexto europeu pela própria Bohin, tornando-se referência em escolas de moda e ateliês de moulage em todo o mundo.
Mais do que um instrumento técnico, a régua japonesa é uma extensão do olhar e da sensibilidade do modelista. Ela traduz em linhas aquilo que as mãos sentem no tecido. É, ao mesmo tempo, precisa e intuitiva, prática e poética, como a própria alta-costura.
Todas as segundas-feiras tem post novo aqui no blog sobre Moulage Francesa, sempre com histórias, técnicas e inspirações dos ateliers. Vamos continuar essa conversa lá no meu perfil do Instagram: me conta nos comentários se essa régua já faz parte do seu kit de modelista.
Um beijo, e até o próximo post!
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