Esses dias recebi essa pergunta de uma colega aqui nas redes sociais e então eu percebi que não falava muito sobre isso, embora seja algo que no passado despertasse interesse, essas diferenciações da moulage eu não costumava falar com freqüência e tampouco escrevia sobre.
Antes de falar sobre a moulage francesa em sí, eu preciso contar uma pequena história da minha trajetória com a técnica.
Quando comecei a estudar a técnica, lá em 2005, vinha uma professora de São Paulo que ficava umas 2 semanas na Universidade e lecionava a disciplina de forma intensiva.
Na época pré internet, diga-se de passagem, o que era mostrado pela professora era registrado pelos alunos apenas com lápis e papel, e não tínhamos nem livros ou bibliografias sobre o assunto na época.
Depois, passara-se alguns semestres e outra professora, a minha mentora até os dias de hoje, a professora Ana Laura Berg, também vinda de Sao Paulo, deu um treinamento para professores na UCS e por um acaso do destino uma outra professora me convidou e eu era a única aluna a fazer parte do curso.
Tudo que a professora Ana Laura retomou conosco estava de acordo com o que eu havia aprendido com a primeira professora, entao eu entendi que moulage era feita sempre daquela mesma forma.
E que forma era essa? Vou listar aqui:
A tela é sempre passada a ferro e preparada anteriormente
O manequim deve contar as marcações do fitilho
A tela deve ser sempre travada com o alfinete
Não podemos "encher" a tela de alfinetes
O tecido indicado e adequado é um cuja composição seja 100% algodão
Não devemos esticar o tecido
A tela antes de ser posicionada sobre o manequim deve conter marcações
Bom, aqui são apenas algumas "leis" básicas da moulage francesa, que não estão escritas em lugar nenhum, porém que eu fui percebo como diferença.
E quando eu vi que existia a diferença?
Certa vez, depois de alguns anos, eu vi uma professora universitária ensinando a técnica de forma mais "livre", ela colocava a tela sobre o manequim, esticava e puxava o tecido, marcava a tela depois do molde pronto.
Lembro que quando vi fiquei chocada, mas logo entendi que ela havia aprendido a técnica com os ingleses.
Após, mais alguns anos se passaram e passei a ter contato com outros materiais e professores da técnica e então passei a constatar que existe sim uma diferença entre como a moulage é ensinada na franca e como ela é ensinada em outros lugares.
Claro que há escolas em outros países que seguem a metodologia francesa, um exemplo disso é o livro Moulage Arte e Técnica, escrito por uma holandesa.
Porém percebo que os ingleses tem uma forma diferente de trabalhar, assim como os italianos e os norte-americanos.
Percebo também que os espanhóis e as russas também seguem um pouco da metodologia francesa, eles fazem a tela seguindo alguns cuidados como mencionei acima.
Aqui no Brasil existe um pouco de tudo, pois assim como eu tive professores que aprenderam a técnica com mestres franceses, muitos professores aprenderam com os ingleses e americanos. Inclusive em algumas instituições de ensino chamam a técnica de draping, que é o nome da moulage em inglês.
Uma outra metodologia existente e que simpatizo muito é a adaptação feita pelos japoneses. Gosto muito de acompanhar modelistas japoneses que usam a moulage, tanto é que o TR Pattern vem a ser um mix entre moulage e modelagem plana.
Além das variações que mencionei ainda existe a crepagem, muito usada no segmento de moda festa, que é a técnica onde obtemos o molde do corpo através da fita crepe, ou seja, enrolamos o manequim com fita crepe e assim obteremos a forma do corpo. Essa metodologia originou-se do segmento de lingerie e passou a ser adaptado para outros.
Uma pergunta que fazem com freqüência é se sou adepta da crepagem e particularmente não, Como eu aprendi a técnica francesa tradicional, e percebi que ela é a que entrega uma melhor qualidade na hora de fazer o molde, pois quando marcamos o manequim, marcamos a tela e fazermos a sequência correta, não há como o molde ficar errado. E claro, ainda tem o fato de a técnica ser a escolhida pelos ateliers francesa de Alta Costura, onde cada peca de roupa é como se fosse uma obra de arte. Então ao meu ver é a melhor forma de se obter um molde que apresente um caimento perfeito, não é?
O único porém da moulage francesa é que nesta técnica não é feita a modelagem da calça. Tanto é que vocês não verão manequins Stockman ou Esmod com pernas.
Manequins franceses em um atelier que visitei em Paris (2017)
Já na moulage norte-americana podemos ver uma variedade de modelos, como calcas e moulage em malha. Já neste caso podemos ver marcas de manequins com pernas, como é o caso da marca de manequins The Shop Company, aqueles que tem dizem "Collapsible Shoulders".
Manequins americanos na loja da Mood em Nova York (2019)
Atualmente como criadora de conteúdo e professora de moulage eu costumo estudar um pouco de cada metodologia, mas me mantenho sempre fiel a moulage francesa, principalmente no curso Segredos da Moulage Francesa, onde ensino 100% a técnica original.
Já no meu canal no youtube eu faço os testes de outros métodos: trabalho com a moulage de malha, moulage de calças... experimento a moulage em outros tecidos... enfim, experimentos que gosto de fazer e compartilhar com meus alunos e seguidores.
Espero que esse post tenha sido esclarecedor sobre os tipos de moulage e que você tenha gostado deste conteúdo!
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